terça-feira, 28 de junho de 2011

É careta se alguém fala de amor

Toca Raul: “Eu vou ter com a moçada lá do pier, mas pra eles é careta se alguém fala de amor.”
Hoje estava caminhando pelas ruas geladas do centro e pensei em você, L. Quase não consigo andar por Porto Alegre sem pensar em você. É incrível como sei que não te amo, mas ao mesmo tempo não consigo não pensar em você (como escrevo isso se saber e amar são verbos incompatíveis?). Pelos corredores cinzas e sob o teto azul desmaiado de junho, o vento recorta minha silhueta em movimentos de casacão, cabelos, botas, óculos de sol. E meu rosto imóvel é uma máscara que guarda pedaços seus.
Penso que estou num centro antigo, entre prédios antigos, entre ruas antigas, e como seria bonito se você cruzasse por mim e a gente se visse aqui, inesperadamente aqui. Romance, frio, cidade antiga, café. Tudo isso é muito para os dias de hoje. E muito-ou-mais é menos.
É careta se alguém fala de amor. Somente o sexo vale. Falar, agir, mover mundos e fundos para sexo é permitido. Tudo é sexo. Mas o amor não merece ação, nem palavra. É antigo e cafona. O mundo gira pelo sexo, exala sexo ininterruptamente, vende biscoitos recheados através de sexo e tudo isso é considerado normal. Anormal é uma pessoa que escreve longas cartas para ninguém (será mesmo?). Pequenos e covardes somos todos os que vemos o óbvio mas fingimos que não. Que mentimos que queremos somente aproveitar o momento, não queremos nos apaixonar, que a flor roxa ainda brota somente nos corações alheios. Somos pequenos e covardes porque não admitimos o quanto sabemos que o que nos move incondicionalmente é só o amor.  Porque não queremos gritar para o mundo inteiro saber que só o amor é o que importa. Só ficamos cantarolando baixinho e tatuando nas  nossas modernas nucas “all you need is love”. É careta se alguém fala de amor. Ah, claro, Beatles é diferente.
Escrevo isso porque acho que você, L., neste momento deve estar pensando:  “essa mulher é uma louca. Faz seis anos que não nos vemos (exceto às pressas, mordidos pela culpa e pela falta de tempo) e ela fala de amor?? Quando falamos de amor????”   É claro que estou me defendendo. Estou me defendendo de supostas alegações sobre a minha caretice. Mas enfim, sim, esta sou eu. Uma mulher eternamente movida pelo romance. Nada mais careta. Romance não é casamento, não é relacionamento, não é sexo, não é caso. Romance é romance. E o que vivemos foi romance. E você sabe disso. Por isso você me disse aquele domingo no chat: “o que vivemos foi ótimo”.  E, que droga, não consigo esquecer. Ainda não. E nem quero. E nem vou. E talvez você nem queira saber disso.
Mas, enfim... sou careta e espero no pier o velho Raul para conversarmos.
A tempo: gosto, sim, de desenhos novos de ilustradores pop, gosto de palavras líquidas riscadas nas peles e ainda vou cortar os cabelos curtíssimos. Sou fronteiriça: tenho um lado que quer viver o que é de hoje, sim.
Mas uma terapeuta um dia me disse: “você não é deste tempo”. Não sou mesmo. Eu vejo a vida melhor no futuro. E no futuro, o amor é tudo. O resto não merecerá uma linha.
:::::::::
Toca Caetano: “São Paulo é como um mundo todo. No mundo um grande amor perdi.”
Mas sobre isso eu escrevo em outra carta.